Foto: Dalva Saudo
CHUVA E LÁGRIMAS
Cenário: Ônibus 212 Campinas SP
Dalva Saudo
Seus olhos naquela manhã
Estavam tão nublados quanto o céu
Marejados de lágrimas amargas como fel.
Com dificuldades enxergavam
O gotejar da chuva mansa
No explodir de densa nuvem
Numa mágoa contínua, incontida
Embaçando vidros do coletivo veículo.
A paisagem lá fora se escondera.
Chuva e lágrimas não paravam de cair.
Rolavam pela face, pelos vidros...
Ambas suavizavam limítrofes sofrimentos,
Atenuando, diluindo ressentimentos.
Brotavam sufocadas
Cada qual extravasando sua dor
Na esperança do amanhã da terra e alma lavadas,
De pássaros em revoadas.
Esperança do renascer de novas vidas, sem mágoas
No explodir e romper de bolsas d'aguas
Que admirariam novas paisagens
Em close...
Que nasceriam coloridas em novas viagens
Do ônibus 212
Dalva, cada vez mais você nos surpreende, nos surpreende com tanta beleza, extraindo da tragédia o encanto da poesia.
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